Flores do Cerrado
No final dos anos 70 comprei um lote no Lago Norte. A casa foi construída próxima da divisa, de forma a preservar as espécies nativas de cerrado, adultas, ali existentes.
Eram duas canela de ema, duas bacupari e uma barbatimão. As primeiras davam flores únicas, as segundas davam frutos amarelos de sabor doce e acentuado e a última, com poderes cicatrizantes, é conhecida pela qualidade medicinal de sua casca. A casa foi alugada e o inquilino, um engenheiro, as cortou alegando que eram “mato”.
Esse entendimento de que o cerrado ou o “mato” eram coisas de menor importância foi substituído paulatinamente em razão dos estudos das espécies e de sua presença na composição do ecossistema. Ao tempo em que se iniciava o aproveitamento do cerrado como área de expansão da fronteira agrícola o Arquiteto Paulo Magalhães construiu uma casa em Planaltina (Distrito Federal) onde o aço do concreto armado foi substituído pelas fibras de canela de ema.
Hoje há uma consciência bem difundida da importância do bioma do cerrado e da preservação das espécies, da flora e da fauna nele encontradas. Uma de nossas Cidades Satélites leva o nome do lobo Guará. O Pirá Brasilia, um pequeno peixe encontrado no planalto foi por um tempo o animal símbolo de Brasília.
As flores do cerrado são variadas em cores e formas. Umas, como a Calliandra e o Angiquinho são formadas apenas de filamentos de cores fortes. Outras têm a forma de um sino, como a turnera e muitas são formadas por pétalas tendo ao centro os estames e carpelos. Algumas floram o ano todo como a quaresmeira.
A Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central – CODEPLAN, durante o Governo de José Aparecido publicou uma bonita coleção de gravuras de flores do cerrado.
O próprio Aparecido havia feito transplantar o buriti que dá nome à praça em frente ao Palácio do mesmo nome e feito gravar em mármore o trecho lírico de Afonso Arinos de Melo Franco sobre o Buriti Perdido.
Os projetos iniciais de arborização da cidade, ainda que, seguindo as orientações de Lucio Costa, foram se adequando às condições locais e incorporando as espécies nativas. Esse movimento de conhecimento de nossa flora e de reconhecimento de sua importância se espalha por todos. André Cirino é um dos artistas plásticos que tem as flores do cerrado como tema de seus trabalhos e que resultam em belíssimos quadros.
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