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O lixão e as condições de vida de nossos intocáveis

Fotos publicadas nos últimos dias mostraram homens, mulheres e até crianças trabalhando no lixão da Estrutural. As fotos causaram repugnância e desconforto pela insalubridade e pela degradante condição de trabalho daquelas pessoas. Tudo tão próximo do centro do poder.

Reações diversas foram captadas. Os moradores das cercanias viram naquela aglomeração uma oportunidade de fazer algum dinheiro com o comércio de alimentos para os catadores de material reciclável. Mas a população, em geral, sente-se impossibilitada de intervir neste processo e o vê como uma responsabilidade do poder público, a quem cabe manter as cidades saneadas, promovendo a coleta e a disposição final dos resíduos sólidos.

Muito pouco se tem feito a respeito da melhoria dos processos de coleta e disposição final. Ainda dependemos de caminhões que passam com certa regularidade, coletam os resíduos e os lançam em áreas distantes dos centros urbanos e de preferência de difícil acesso. Longe dos olhos das pessoas.

O lixo tomou importância econômica pelo alto índice de reciclagem alcançado pelo país. É penoso reconhecer que esses ganhos econômicos se fazem a custa de trabalho subumano a que são submetidas estas populações que à falta de outras oportunidades se vêm obrigadas a trabalhar em tais condições para obter o seu sustento.

Brasília já empreendeu algumas tentativas de tratar o lixo de forma a reduzir o seu manuseio. Os primeiros prédios eram dotados de dutos interligados a alçapões em cada apartamento. Estes alçapões permitiam o lançamento direto do lixo a partir do apartamento, o qual caia diretamente no compartimento a ele destinado no térreo.

O impacto dos sacos na lixeira do térreo e o lançamento de alimentos sem acondicionamento correto transformavam aqueles dutos em depósito de alimentos para insetos e roedores. Isso levou ao abandono daquele modo de construir e ao fechamento dos alçapões nos prédios antigos que os continham.

A primeira usina de tratamento construída ali na Avenida das Nações tinha uma rampa lançadora dos sólidos. Esta rampa deveria lançar mais longe os materiais de maior densidade, como o ferro e outros metais, um pouco menos longe o vidro e assim separaria os resíduos permitindo o seu uso em reciclagem. O processo não era tão eficiente e na próxima estação de tratamento construída na Cinelândia não havia nada parecido. Tudo é lançado em uma vala de concreto e depois içado por uma grua que leva os resíduos a esteiras onde se dá a separação dos materiais recicláveis. Há um intensivo contato com os resíduos e a usina tem reduzida capacidade de processamento.

Sobram então os lixões com a degradação das pessoas e do meio ambiente! Mas o que resta além da indignação da população com as condições de trabalho dessas pessoas?

Não custa repetir que a população de Brasília, quando quer e tem apoio do poder público pode fazer muito – vide o caso das faixas de pedestres. Neste caso pode-se praticamente retirar todos aqueles que trabalham no lixão e dar-lhes a possibilidade de trabalhar condignamente. O acondicionamento do lixo residencial, dos escritórios, do comércio e da indústria em recipientes separados: papéis, metais, plásticos, vidros, químicos e orgânicos permitiria que aqueles que trabalham no lixão o recolhessem sem necessidades de se lançarem nos containeres ou que os esperassem no lixão para os separar.

A coleta seletiva é uma promessa sempre adiada. Ela poderá redimir aqueles compatriotas e reduzir a agressão ao meio ambiente.

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Sobre
Eustáquio Ferreira

Arquiteto pós-graduado em Administração, escritor e blogueiro.

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